Qual a Relação entre Deming e a Política?

Há anos que venho escrevendo sobre o pensamento de Deming, referindo sempre a enorme influência que as suas ideias têm tido e continuam a ter, à escala global, no sucesso das organizações.

Deve-se a Deming, inspirado por Shewart, o célebre ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act) da melhoria contínua, uma parte relevante das ideias que conduziram à rápida recuperação do Japão logo a seguir à 2ª Guerra Mundial e à recuperação da indústria automóvel dos EUA nos anos 70.

Num artigo meu publicado no último número da revista Qualidade, da APQ, perguntava se a actual crise seria uma consequência de más lideranças e para tal relembrava os pontos 1 e 2 de Deming que são, por assim dizer, a síntese dos célebres 14 pontos deste autor.

Ora, a mensagem que esses dois pontos transmitem à luz dos tempos actuais é que há necessidade de criar uma vontade permanente de melhoria que assegure maior competitividade e sustentabilidade, o que implica uma postura diferente por parte da maioria dos/as líderes e gestores/as, dos/as quais se espera humildade, determinação, transparência, honestidade, cidadania e capacidade para inspirar e dirigir.

Estabeleçamos, pois, a relação que o título deste artigo sugere e que irei concluir com alguns elogios implícitos mas absolutamente imparciais, até porque nunca votei no CDS-PP, ao modo como o seu líder conduziu a recente campanha eleitoral para as legislativas. Para tal importa identificar as características que Paulo Portas adoptou nessa campanha e que evidenciam uma clara aproximação a Deming, bem como uma mudança notável em relação à imagem que muitos de nós tínhamos dele:

• Simplicidade no trato com os/as eleitores/as;
• Humildade, nomeadamente  a decorrente dos baixos custos da campanha;
• Determinação e convicção manifestadas;
• Ideias e objectivos claros;
• Não gerir por objectivos, ou seja, não forçar que os objectivos sejam atingidos, mas sim criar as condições para que as práticas conduzam à sua concretização;
• Coerência das mensagens dos dirigentes.

É certo que os resultados alcançados beneficiaram das fraquezas reveladas pelo PSD, mas estou convicto de que, à semelhança de muitas outras organizações, é esta a única via sustentável.

Eng.º Moitinho de Almeida

Outubro de 2009