Centenário de Peter Drucker
Prestamos hoje homenagem a Peter Drucker, considerado “pai da gestão” pela maioria dos/as estudiosos/as desta matéria, título que sempre recusou. Nascido a 19 de Novembro de 1909 e falecido em 2005 comemoraram-se agora em todo o mundo os cem anos do seu nascimento.
Numa época em que grande parte da população mundial sofre as consequências da conduta irresponsável de numerosos executivos que puseram a ambição acima dos interesses das suas sociedades, importa referir que já na década de 80 Drucker alertava para o alto preço que as empresas teriam de suportar pelo facto de permitirem pagamentos indiscriminados aos executivos e de terem esquemas compensatórios conducentes a comportamentos de risco e a pensar apenas no curto prazo.
Rosabeth Moss Kanter, um dos nomes mais destacados da gestão, num artigo recente na Harvard Business Review sobre o que diria hoje Drucker escreveu:
- auto-regulem-se para evitar sobreregulação governamental;
- unam-se para reformar os sistemas de compensação;
- profissionalizem os conselhos de administração;
- pensem para lá da soberania se quiserem resolver os problemas ambientais.
E a mesma autora acrescenta:
“Peter Drucker antecipou tantas tendências que os seus óculos pareciam conter bolas de cristal. Décadas antes de serem vislumbráveis, identificou tendências, como a chegada dos trabalhadores do conhecimento; a importância das organizações sem fins lucrativos; a missão das empresas; ou o poder crescente dos fundos de pensões, do empreendedorismo e da inovação.”
O livro Inovação e Gestão (Innovation Management) de Peter Drucker foi talvez o primeiro livro a sensibilizar uma larga camada de portugueses/as para a importância da inovação, cujo conceito não considerava limitado ao produto e ao serviço, estendendo-se a tudo quanto pode ter lugar numa organização. De certo modo, se bem que um pouco tarde, a 3ª ed. do Manual de Oslo e a nossa norma NP4457:9007 também já vêem a inovação segundo essa perspectiva, ao considerarem também a inovação organizacional e de marketing.
Eis algumas ideias de Drucker acerca da inovação:
- os/as inovadores/as devem procurar descobrir as necessidades ocultas ainda não identificadas em pesquisas de mercado;
- nunca inove para o futuro, isso é oratória romântica; inove para o presente;
- a inovação nunca sai como a planeámos; o mercado e os clientes é que ditam o sucesso daquilo que nem sequer nos passava pela cabeça;
- o/a inovador/a minimiza os riscos, não os maximiza. O/a inovador/a não se orienta para o risco, mas para a oportunidade.
Drucker atribuiu uma importância relevante às organizações sem fins lucrativos, sobre as quais escreveu Managing the Non-Profit Organization: Principles and Practices. Para ele, o negócio podia aprender muito com estas organizações relativamente a formas de motivação para além do bottom line financeiro.
À semelhança de Deming e Juran os dois “gurus” da Qualidade, infelizmente já não entre nós, as ideias de Drucker não podem ser resumidas a um catálogo de afirmações, importando, isso sim, a sua vivência quotidiana. É esta vivência que esperamos de todos vós, leitores amigos.
Eng.º Moitinho de Almeida
Dezembro de 2009